quinta-feira, 29 de abril de 2010



fotografia por guilherme santos

Verdade
Regina Romeiro


É inacessível a verdade de cada um
Não sei a minha, não saberei a tua
Mesmo virando no avesso roupagem íntima
Não saberei da verdadeira qualidade nela intrínseca
Não saberei como resistir
Não conheço limites humanos
Desconheço simplesmente por ser desconhecido
Por nada mais
Os desejos, as mágoas, as maledicências, as pragas rogadas
As intimidades todas que cabem dentro do prazer
Saudável ou mórbido ou sádico
O indivíduo é essa caixa de surpresas nunca reveladas
Sorri e odeia aquece e abana
Embala interesses, encontro de idéias
Repele diferenças
Ou aceita na intimidade de si mesmo de ninguém mais
Ou se recusa, recusa-se
Repele sua essência
Não alimenta sua satisfação
Não conhece o ser
Conhecimento é essa gama de letras de imagens
Sons idéias olhadas, apenas olhadas
Satisfação é esse rastro apagado
Essa coisa pisada dentro de cada ser
Esquecida da mãe, da natureza das coisas
Da beleza, da inteireza, essa é desconhecida
Não nos reconhecemos não conhecemos o outro
E a verdade, o princípio fica sendo a incógnita
O fim não da finalidade, mas o fim dos tempos,
O fim dos sentimentos, o acabou
Ou o que não se enxergou e não vingou
Não, não me conheço.

O tempo não pára



fotografia por: rgonçalves


O tempo não pára
Regina Romeiro

Da mudança foram três anos e ainda jaziam caixas como velhos baús
Nelas enterrados: biquínis, cangas, fantasias de carnaval dos velhos tempos
Os quadros de que mais gostava empapelados
Melhores louças, taças
Embalados em papéis de seda, sepultados

O tempo passara, como sempre, pois tempo não pára
Tempo bom ou mau anda, comanda, marca
E não chama, há que se tocar com o tempo
Há que desfrutar, amar, odiar por um tempo para melhor passar o tempo
Tropeçar e chutar o balde, mas em tempo

Amadurar o tempo, cantar no tempo, ler, compreender
Mas sem esquecer o tempo
As caixas foram esquecidas, os pacotes, as sedas
O coração, o corpo
Tudo esquecido dentro do tempo

Porão cheirando a guardado, sedas amareladas
Vida descuidada, tempo escoado
Decidira mexer, mudar, renovar
Abrir o quarto que permanecera trancado
Conferir os salvados, jogar os perdidos, mofados, manchados

Balanço:
Entre perdas e ganhos, mais perdas
Jogara com o tempo a seu desfavor
Ficara mais velha, meio triste, pesada
Não era a mesma e não sabia mais usar as fantasias

Muitas peças ao lixo, outras ao sol
Outras para tentar tirar marcas do tempo guardado
Tempo que não dá trégua
Amanhã, se amanhecer um lindo sol é necessário aproveitá-lo
Se chover, chorar

Chorar é bom e o sol sempre aparece e quando ele chegar o bom em tempo é secar as Lágrimas e se derreter